domingo, 26 de janeiro de 2014

LÍNGUA PORTUGUESA

A propósito do tema da Semana da Leitura 2014 e do concurso de poesia promovido pelas BE do Agrupamento:


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac, in "Poesias"

Este texto é um soneto, poema de catorze versos decassilábicos divididos em duas quadras e dois tercetos.
O poeta aborda a história da língua portuguesa, tema já tratado por Camões. Com a metáfora “Última flor do Lácio, inculta e bela”, refere-se ao facto de a língua portuguesa ter sido a última língua latina formada a partir do latim vulgar.
A língua portuguesa é, ao mesmo tempo, esplendor e sepultura porque surgia uma nova língua, dando continuidade ao latim e, a partir do momento em que a língua portuguesa ia sendo usada e se ia expandindo, o latim caía em desuso. 
O poeta exalta a língua que ainda não foi lapidada pela fala, em comparação às outras também formadas a partir do latim, e enfatiza a beleza da língua nas suas diversas expressões: oratórias, canções de ninar, emoções, orações e louvores.

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